Vítimas de AVC beneficiam de protocolo de Reabilitação Intensiva no Hospital Terras do Infante
O objetivo é iniciar o mais precocemente possível a reabilitação motora, sensorial e cognitiva das pessoas que sofreram um AVC, de modo a aproveitar ao máximo o potencial de recuperação e, posteriormente, em consulta externa ou regime de ambulatório garantir um seguimento definido de acordo com o quadro clínico-funcional de cada paciente.
Como explica o médico fisiatra Carlos Machado, responsável por esta nova valência no Hospital Terras do Infante, “este é um modelo de intervenção integral, validado e capaz de fornecer indicadores fiáveis da eficácia e eficiência de todo o processo curativo e reabilitativo desde as fases mais precoces até ao objetivo final, que é a otimização do doente e a sua reintegração na comunidade, tentando garantir sempre um elevado grau de satisfação e participação por parte dos doentes e das suas famílias neste processo”.
Para integrar esta unidade, e tendo em conta o objetivo de potenciar ao máximo a reabilitação, os doentes com o diagnóstico estabelecido de AVC agudo internados na Unidade de AVC e nos Serviços de Neurologia, de Medicina Interna ou nas Unidades de Cuidados Intensivos e Intermédios têm que estar clinicamente estáveis e com capacidade para beneficiarem deste programa de reabilitação de média/alta intensidade, que se realiza duas vezes por dia.
Os programas de reabilitação intensiva têm uma duração que pode variar entre quatro e seis semanas, dependendo do diagnóstico inicial, podendo os planos ser adaptados consoante a resposta dos doentes, explica a enfermeira gestora Vera Calado, adiantando que para a admissão é obrigatório a sua estabilização a nível hemodinâmico, uma avaliação social e um consentimento informado em que o utente e família aceitam o programa, a visita domiciliária e os ensaios ao domicílio.
“Quando são integrados na unidade os doentes têm que ter as outras patologias já estabilizadas, sendo apenas propostos para o programa após avaliação do fisiatra e do médico de medicina interna que dá apoio ao centro. Por isso não podem haver exames pendentes que possam impedir esta reabilitação. A medicação tem que estar sempre muito bem ajustada e tem que se avaliar a carga física”, reforça a enfermeira.
A unidade conta com oito camas de internamento e dispõe de uma equipa multidisciplinar dedicada exclusivamente à reabilitação destes doentes. “Neste momento temos também uma internista, a médica Luísa Monteiro, alocada à Unidade porque fomos percebendo que estes doentes beneficiavam do facto de terem um médico internista dedicado só aquelas oito camas todos os dias. Dispomos também da enfermagem generalista e da enfermagem de reabilitação, o que é muito importante.
Num trabalho imprescindível e de equipa contamos ainda com a fisioterapia, a terapia da fala, a terapia ocupacional, uma dietista, uma psicóloga, uma assistente social e uma assistente técnica, garantindo assim uma abordagem o mais abrangente possível para os doentes e para as suas famílias”, realça a médica Maria Inês Simões, responsável clínica do Hospital Terras do Infante.
Família, um elo importante neste trabalho de equipa
Com uma visão integradora que privilegia o papel da família, a equipa envolve, desde o início, os familiares dos doentes vítimas de AVC em todo o processo de reabilitação, ou seja, desde a sua admissão no programa de reabilitação intensiva até ao momento da preparação da alta e no momento pós-alta, já em casa dos doentes.
A proximidade, o diálogo, a constante informação, o envolvimento e o apoio são as chaves de sucesso para esta relação que torna as famílias um elo importante no processo de reabilitação e integração do doente na comunidade e na sua vida ativa.
Paralelamente, e neste processo, é também efetuada uma avaliação pelo Serviço Social porque existem cuidadores que terão que dar continuidade a este programa no domicílio. 48 horas após a admissão no programa de reabilitação ocorre uma reunião com a família onde é apresentado o plano individual para o doente.
“A família é envolvida desde o início. Explicamos o que estamos a fazer aos doentes, quais os objetivos e as expetativas. Levam um questionário para casa no sentido de identificar as dificuldades e, no momento antes da alta, a nossa equipa vai à casa do doente verificar se há barreiras arquitetónicas, bem como para identificar quais as dificuldades que podemos ajudar a ultrapassar”, esclarece o fisiatra Carlos Machado.
Como refere a equipa, as reuniões com as famílias servem simultaneamente para “projetar, desde logo, a manutenção do processo reabilitativo na fase pós alta, a partir de estratégias de manutenção e de programas ambulatórios, de ensino, apoio, e capacitação familiar e das estruturas de proximidade para participação nesse processo”.
Balanço positivo
“Até agora todos os doentes têm saído daqui a andar. Independentemente do tempo que cá estão, todos beneficiaram de uma grande reabilitação que lhes proporcionou um retorno à vida que tinham anteriormente”, é desta forma que a médica Maria Inês Simões faz o balanço destes primeiros meses de atividade onde já foram reabilitados integralmente e com sucesso 34 doentes através deste protocolo de reabilitação intensiva no Hospital Terras do Infante.
Em termos de apoio, em Consulta Externa de Fisiatria nesta unidade hospitalar já foram seguidos 300 utentes e efetuados cerca de 15.904 atos no âmbito da reabilitação, incluindo todas as intervenções nos diversos protocolos estabelecidos.
Acreditação da Qualidade nos Serviços
A Qualidade é uma das palavras-chave que norteia todas as intervenções e atos nesta unidade. Por isso mesmo, todos os membros da equipa multidisciplinar seguem, de forma rígida e protocolar, as classificações nacionais e internacionais preconizadas para a avaliação desta tipologia de doentes, como é o caso da Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde ou a Goal Attainment Scaling.
Esclarece o fisiatra Carlos Machado que os utentes são avaliados na admissão, durante a reabilitação e após o processo de reabilitação no sentido de aferir a Qualidade das intervenções. “Queremos sempre melhorar e por isso “está a decorrer paralelamente um processo de Acreditação do Serviço”, enfatiza o responsável que perspetiva no futuro ter a oportunidade de aumentar o número de camas e assim ajudar a reabilitar um maior número de pessoas que, infelizmente, foram afetadas por AVC agudo.
